Carência afetiva - Inimiga número um do nosso crescimento

19/03/2025 12:48

CARÊNCIA AFETIVA

A inimiga nº 1 do nosso crescimento

Como a psicanálise entende esse fenômeno

Na psicanálise, carência afetiva não é simplesmente “falta de carinho”.
É um modo de se relacionar com o mundo marcado por uma necessidade excessiva de aprovação, atenção e validação — uma necessidade que nunca parece suficientemente saciada.

Ela nasce de falhas precoces nas relações com as figuras primárias (pais ou cuidadores).
Por isso, a psicanálise a considera uma das maiores inimigas do crescimento emocional.


1. A ORIGEM DA CARÊNCIA NA PSICANÁLISE

Para Freud e, depois, para a psicanálise contemporânea, o bebê precisa de dois elementos básicos:

1) Sustentação emocional

2) Constância no cuidado

Quando isso falha — seja por ausência, instabilidade, frieza ou inconsistência — forma-se no sujeito um “vazio”, uma sensação de não ter sido suficientemente amado ou visto.

Esse vazio não some com o tempo.
Ele se transforma em um buraco simbólico que o indivíduo tenta preencher, muitas vezes, em relações amorosas, amizades e até no trabalho.


2. O MECANISMO PSICANALÍTICO DA CARÊNCIA

A carência afetiva ativa um movimento inconsciente:

“Busco no outro aquilo que faltou em mim.”

E isso gera comportamentos como:

  • medo de rejeição,

  • necessidade constante de atenção,

  • dificuldade de ficar só,

  • vínculos dependentes,

  • busca de validação externa,

  • aceitação de migalhas afetivas,

  • idealização do outro,

  • submissão emocional.

O sujeito passa a viver para ser amado e não para existir a partir de si.


3. POR QUE ELA IMPEDE O CRESCIMENTO?

Porque a carência aprisiona o sujeito.

Ela impede escolhas livres: quem é movido pela falta, não escolhe; implora.

A psicanálise entende que a carência afetiva bloqueia o desenvolvimento por três motivos principais:


(1) Desvia a energia psíquica

Boa parte da energia emocional (libido) fica paralisada em:

  • angústias,

  • fantasias de abandono,

  • tentativas de agradar,

  • busca compulsiva de afeto.

Falta energia disponível para criar, estudar, trabalhar, construir autonomia.


(2) Alimenta relações tóxicas e repetitivas

O sujeito carente costuma escolher relações nas quais:

  • aceita pouco,

  • suporta demais,

  • deposita no outro uma função “salvadora”.

Essa repetição inconsciente mantém o indivíduo no mesmo lugar, sempre tentando reparar o passado no presente.


(3) Impede o processo de individuação

Para crescer emocionalmente, é preciso:

  • suportar frustrações,

  • tolerar a solidão,

  • reconhecer limites,

  • diferenciar-se do outro.

A carência impede tudo isso.
Ela diz: “Sem o outro, eu não existo.”

Assim, o sujeito não se torna adulto — fica emocionalmente preso a um “eu infantil”.


4. COMO A PSICANÁLISE TRABALHA A CARÊNCIA

O foco não é “ensinar a pessoa a não ser carente”,
mas trabalhar a ferida original.

No processo analítico, o paciente passa por etapas:

1) Reconhecer a falta

Entender de onde vem a dor do abandono e quando ela aparece.

2) Elaborar o passado

Compreender como as falhas no cuidado inicial moldaram seus vínculos atuais.

3) Resgatar o amor-próprio

Não como autoajuda, mas como reconstrução interna:
uma reorganização da imagem de si.

4) Fortalecer o eu

Para que o sujeito consiga desejar a partir de si, e não a partir da necessidade de ser amado.


5. O OBJETIVO FINAL

A psicanálise não promete que a carência desapareça totalmente,
mas que ela deixe de comandar a vida.

O sujeito passa de:

“Preciso do outro para sobreviver”

para

“Quero me relacionar, mas não perco a mim mesmo no processo.”

E é aí que o crescimento acontece.