ACEITANDO-SE PARA MUDAR

05-07-2025 12:34

ACEITANDO-SE PARA MUDAR

Uma compreensão psicanalítica

Na psicanálise, mudar não significa virar outra pessoa — significa tornar-se mais próximo de quem você realmente é, menos prisioneiro de medos, repetições e exigências internas impossíveis.

E isso só acontece quando o sujeito consegue se reconhecer, se escutar e se aceitar.

Por que a aceitação é necessária segundo a psicanálise?

A psicanálise mostra que grande parte do nosso sofrimento vem de conflitos internos:

  • desejos que tentamos negar,

  • sentimentos que julgamos “errados”,

  • partes nossas que foram reprimidas,

  • ideais impossíveis impostos pelo Supereu (a voz interna crítica).

Enquanto a pessoa luta para esconder ou “calar” tudo isso, ela fica presa ao mesmo ponto, repetindo padrões.
O que é reprimido retorna.
E retorna justamente na forma de angústia, sintomas, autocrítica e vergonha.

Aceitar-se, em psicanálise, é começar a olhar para essas partes negadas, sem tanta culpa e sem tanto medo.

Aceitar não é gostar — é reconhecer

Para a psicanálise, aceitar não é dizer “está tudo bem como está”.
É dizer:
Isso faz parte de mim. Posso olhar para isso. Posso compreender isso.

Quando o sujeito reconhece seu próprio funcionamento psíquico — seus desejos, seus limites, suas dores — ele deixa de ser governado pelo inconsciente de forma tão rígida.
Começa a ter mais liberdade interna.

Por que isso permite mudar?

Porque só se transforma aquilo que primeiro é reconhecido.
O que a pessoa não aceita, ela esconde.
O que ela esconde, ela não elabora.
E o que ela não elabora, ela repete.

Aceitar-se é o início do processo analítico porque abre espaço para:

  • elaborar conflitos internos;

  • diminuir a tirania do Supereu (a crítica interna);

  • integrar partes de si que estavam esquecidas, reprimidas ou condenadas;

  • assumir responsabilidades que antes eram evitadas;

  • fazer escolhas mais livres, e não baseadas em medo ou culpa.

Aceitar-se para mudar, na visão psicanalítica, é assim:

  • Acolher seu próprio inconsciente, em vez de lutar contra ele.

  • Escutar sua verdade, em vez de encobri-la por expectativas externas.

  • Reconhecer seus desejos, para poder escolher o que fazer com eles.

  • Reduzir a autocrítica, para permitir que algo novo surja.

  • Dar lugar à palavra, para simbolizar aquilo que antes só aparecia como sofrimento.

Quando o sujeito se aceita, ele deixa de repetir — e começa a criar.

A mudança, na psicanálise, não é um esforço moral.
É um movimento interno que nasce quando a pessoa se encontra consigo, sem defesas tão rígidas e sem tanto medo de olhar para sua verdade.

Aceitar-se é o início da liberdade psíquica.
Mudar é o caminho que se abre depois disso.