ACEITANDO-SE PARA MUDAR
ACEITANDO-SE PARA MUDAR
Uma compreensão psicanalítica
Na psicanálise, mudar não significa virar outra pessoa — significa tornar-se mais próximo de quem você realmente é, menos prisioneiro de medos, repetições e exigências internas impossíveis.
E isso só acontece quando o sujeito consegue se reconhecer, se escutar e se aceitar.
Por que a aceitação é necessária segundo a psicanálise?
A psicanálise mostra que grande parte do nosso sofrimento vem de conflitos internos:
-
desejos que tentamos negar,
-
sentimentos que julgamos “errados”,
-
partes nossas que foram reprimidas,
-
ideais impossíveis impostos pelo Supereu (a voz interna crítica).
Enquanto a pessoa luta para esconder ou “calar” tudo isso, ela fica presa ao mesmo ponto, repetindo padrões.
O que é reprimido retorna.
E retorna justamente na forma de angústia, sintomas, autocrítica e vergonha.
Aceitar-se, em psicanálise, é começar a olhar para essas partes negadas, sem tanta culpa e sem tanto medo.
Aceitar não é gostar — é reconhecer
Para a psicanálise, aceitar não é dizer “está tudo bem como está”.
É dizer:
“Isso faz parte de mim. Posso olhar para isso. Posso compreender isso.”
Quando o sujeito reconhece seu próprio funcionamento psíquico — seus desejos, seus limites, suas dores — ele deixa de ser governado pelo inconsciente de forma tão rígida.
Começa a ter mais liberdade interna.
Por que isso permite mudar?
Porque só se transforma aquilo que primeiro é reconhecido.
O que a pessoa não aceita, ela esconde.
O que ela esconde, ela não elabora.
E o que ela não elabora, ela repete.
Aceitar-se é o início do processo analítico porque abre espaço para:
-
elaborar conflitos internos;
-
diminuir a tirania do Supereu (a crítica interna);
-
integrar partes de si que estavam esquecidas, reprimidas ou condenadas;
-
assumir responsabilidades que antes eram evitadas;
-
fazer escolhas mais livres, e não baseadas em medo ou culpa.
Aceitar-se para mudar, na visão psicanalítica, é assim:
-
Acolher seu próprio inconsciente, em vez de lutar contra ele.
-
Escutar sua verdade, em vez de encobri-la por expectativas externas.
-
Reconhecer seus desejos, para poder escolher o que fazer com eles.
-
Reduzir a autocrítica, para permitir que algo novo surja.
-
Dar lugar à palavra, para simbolizar aquilo que antes só aparecia como sofrimento.
Quando o sujeito se aceita, ele deixa de repetir — e começa a criar.
A mudança, na psicanálise, não é um esforço moral.
É um movimento interno que nasce quando a pessoa se encontra consigo, sem defesas tão rígidas e sem tanto medo de olhar para sua verdade.
Aceitar-se é o início da liberdade psíquica.
Mudar é o caminho que se abre depois disso.