A DOR DA SEPARAÇÃO - ENFRENTANDO A DOR

19/03/2010 12:56

Quem está passando por uma separação parece que tudo se torna difícil de ser realizado.

Perde-se à vontade de fazer qualquer coisa que seja por si mesma. Isso pode ocorrer porque a pessoa acaba por se sentir tão sem valor, que não encontra forças para fazer algo por ela ou ainda, não acredita ser merecedora de nada que possa fazê-la sentir-se bem, como se houvesse uma culpa oculta por seus sentimentos. Mas podemos, e devemos, fazer algo para que consigamos suportar esse momento tão cruel e que parece não ter fim.

Separar-se de quem se ama não é uma tarefa das mais fáceis. É um momento de muita dor, como se tivessem atingido a nossa própria alma, que agora sangra de tal forma que parece não irá se cicatrizar nunca. As emoções ficam mais expostas e a razão parece sequer existir. Ficamos totalmente sem defesas e, assim, sem proteção. E o que mais nos pedem é que sejamos racionais. Como, quando tudo é sentido com tal intensidade que parece não existir espaço para a razão?

“Para quem ainda ama, requer muito esforço voltar a sentir prazer pela vida”.

Quando a decisão pela separação é tomada pelos dois, que concordam ser esse o melhor caminho por não haver mais amor, respeito, amizade, objetivos em comum, já é difícil por todo o processo em si que envolve esse momento. Mas existem casos em que a separação acontece quando uma, ou muitas vezes, os dois, ainda se amam, mas determinada situação os “forçam” a se separar.

Ou, ainda, há aquelas que são literalmente abandonadas, sem sequer ter participado da decisão ou sabem os reais fatores que levaram o outro a ir embora. O fato é que a separação quando existe amor é uma fase que machuca demais os envolvidos, não atingindo apenas quem já não sente mais amor, ou quem já está com outra pessoa em seu coração.

Para quem ainda ama, requer muito esforço voltar a sentir prazer pela vida. Afinal, que vida, se sentimos que quem foi levou um pedaço de nós? Dizem que o tempo é o melhor remédio, mas o tempo parece se intensificar e prolongar ainda mais o que tanto dói.

Hoje, sequer existem amigos para dividir esse momento e, muitas vezes, não há família, ou seja, não há ninguém com quem dividir a tristeza, a saudade, com quem falar das dúvidas e perguntas sem fim. Não há quem suporte ao nosso lado e preencha esse vazio tão intenso deixado por quem se foi e por tudo que se acreditou.

É exatamente isso que dá a sensação de vazio, os planos feitos, os sonhos que jamais serão realizados, ao menos com quem se acreditou que seriam. Tudo isso acabou! Acabou o “nós” e é preciso de novo voltar a dizer “eu”. Não há mais a “nossa” casa e sim, a “minha”. Não há mais as ligações diárias, os jantares a dois, os momentos de prazer, as preocupações divididas. Tudo agora terá que ser feito só.

“Confronte os sentimentos que mais doem dentro de você. Este é o caminho para buscar força interior que é o que precisa nesse momento.”

A certeza de ter alguém que nos espere, que se preocupe, que nos ame, nos dá muitas vezes a segurança para continuar mais um dia e, que, de repente, não sentimos mais. Ficamos inseguros, frágeis, sensíveis e apenas com uma certeza: não somos amados como esperávamos ser. E isso acaba por se refletir em todas as outras áreas de nossa vida, comprometendo nossa concentração, criatividade, o trabalho e até a própria saúde.

A tendência nesse momento é lembrar apenas de tudo que havia de bom, dos momentos de alegria. Mas será que era mesmo assim? Se fosse, haveria a separação? É preciso analisar todo o relacionamento para identificar o que era desejo, idealização e o que era realidade. A outra pessoa estava correspondendo aquilo que você esperava dela?

Será que nos últimos meses tudo era mesmo feito junto e com satisfação para ambos? Quem acabava sempre cedendo para agradar apenas ao outro? Quanto será que você não relevou, deixou para lá, não esperou que o outro mudasse? Quais eram os motivos dos desentendimentos, discussões e brigas? Os objetivos de cada um continuavam a ser os mesmos? Os valores também?

Existiam demonstrações constantes de amor? Os dois se sentiam amados e valorizados? O que levou ao distanciamento? Havia diálogo, trocas constante de carinho, cuidado com o outro? Ou será que as palavras de carinho começaram a dar lugar a ofensas e mágoas? Algumas palavras ditas ferem como arma afiada que penetram no mais íntimo de nosso ser, provocando feridas invisíveis, mas que dificilmente cicatrizam. Como e quando as coisas mudaram? Por que não se conseguiu evitar a separação?

Acaba sendo instintivo julgar o outro como responsável pelo nosso sofrimento em função de sua ausência. Mas será que agora você não está tão sozinho quando estavam juntos? Todos esses sentimentos, muitas vezes, contraditórios, podem nos deixar mais confusos ainda, quando o que mais precisamos é de serenidade e confiança.

Sentimos medo de errar de novo, de ficar sozinho, de ninguém mais querer dividir a vida conosco. De não ser mais amado, desejado. De não conseguir superar mais essa perda e, assim, nos isolamos, culpamos-nos pelo que fizemos e deixamos de fazer. E tudo parece não ter mais vida e nem sentido para se continuar vivendo. Será que está sentindo tudo isso porque o outro não está mais ao seu lado ou por que abandonou a si mesmo há muito tempo?

É importante nesse momento você responder a si mesmo todas essas perguntas com sinceridade para que possa entender todo esse processo e voltar a perceber o valor que com certeza você tem. Confrontar-se com os sentimentos que mais doem dentro de você é o caminho mais certo para buscar a força interior que tem e é o que mais precisa nesse momento.

 

Dor da separação - Compreendendo a dor

É muito comum após uma separação lembrar-se muito mais dos momentos bons e esquecer-se das causas que fizeram o relacionamento não mais existir

Depois de analisar alguns fatos, obter algumas respostas, algumas pessoas podem chegar à conclusão que é melhor voltar a um passado infeliz, mas seguro, do que enfrentar um futuro incerto, apesar de quase sempre, muito melhor. Essa voz que lhe diz para ligar, procurá-lo, passar por cima de suas mágoas e sentimentos, fazendo-a olhar esse passado com lágrimas nos olhos, pode estar apenas representando seu medo de acreditar em si mesmo e ser capaz de superar essa dor.

“Negar o que está acontecendo ou sentindo, com medo de sofrer demais, não ajudará em nada”.

Separar-se não significa não haver mais nenhuma possibilidade de voltar atrás e reconciliar-se. Significa simplesmente que por enquanto a relação acabou e esta é a única certeza que possui. Algumas vezes acontece que, depois de uma separação, o casal volte a unir-se, superando as dificuldades e acima de tudo, aprendendo com cada uma delas.

Porém, viver na esperança e na expectativa de que isso aconteça pode ser muito destrutivo. É essencial viver esse momento como uma verdadeira separação, a fim de que todo o sofrimento tenha algum sentido de ter existido e tenha deixado algum aprendizado, para que assim algumas mudanças possam ocorrer.

Se haviam brigas constantes, desentendimentos, tristeza, a separação não deveria ser vivida como uma sensação de alívio?

E se em lugar do alívio, existe a angústia, opressão? Será que isso indica que houve um engano? Mesmo que a relação não estivesse sendo como gostaria, agora falta uma parte de si mesma que sentia como se existisse dentro de você e que foi embora, não há mais um ponto de referência que o outro proporcionava. Houve a quebra de vínculos profundos, e quanto mais longa foi a relação e mais intimamente os momentos eram partilhados, mais intensa parece ser a falta que faz. Mesmo quando havia sofrimento durante o relacionamento, infelizmente é muito difícil existir uma separação sem dor.

Parece ser difícil passar desapercebido esse momento. Os sentimentos que antes era possível disfarçar, agora parecem ficar mais expostos como nunca. A separação de fato machuca tanto, que na escala das causas de estresse vem imediatamente após a morte de uma pessoa significativa. Tanto isso é verdade que quando esse vínculo é rompido, é necessário um trabalho interior que requer uma enorme quantidade de energia psíquica para recuperar o equilíbrio perdido, tanto que psiquicamente, passamos por um período de luto, da mesma forma de quando perdemos uma pessoa querida pela morte real.

De fato, muitas pessoas têm a sensação de assistir a um enterro, sem flores nem acompanhamentos, no qual se está só com seu luto. Algumas pessoas nesse momento precisam estar na companhia de alguém que as ouçam e suportem com elas sua dor, mas quase sempre a pessoa não se sente uma companhia muito agradável, evitando qualquer contato com outras pessoas, para ter a liberdade de chorar, chorar e chorar. Não imaginando que ficaria tão mal! Mas ficamos.

Algumas pessoas olham fotos de momentos vividos juntos, lêem cartas, mensagens que foram trocadas. Outras, no entanto, rasgam tudo, querem se livrar de tudo aquilo que as façam lembrar do passado, afinal os objetos são terríveis testemunhas do que se deseja esquecer. O que é ideal? Guardar e rever tudo que foi conquistado junto ou se livrar de tudo o mais rápido possível? Faça o que te faça sofrer menos. É comum nos dias seguidos da separação, rever fotos e tudo que possa lhe garantir que tudo aquilo existiu de fato, mas prolongar esse período pode trazer muito mais dor.

A culpa também é outro sentimento que pode nos fazer querer voltar para refazer o que não fizemos. Algumas pessoas tendem a assumir toda a carga da responsabilidade para si devido a um sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, por não ter sido capaz de manter a relação. Outras tendem a agir ao contrário, não se responsabilizando por nada do que ocorreu. Nem sempre a busca por culpados é o melhor caminho, é melhor entender o que aconteceu, evitando apontar o dedo para quem quer que seja.

Foram preciso duas pessoas para começar a relação e também para terminá-la, por mais que um dos dois não quisesse que isso ocorresse. Mas não se deve deixar-se esmagar por condenações, com certeza cada um naquele momento fez o melhor que conseguiu fazer. Ter uma visão clara do que ocorreu não é uma conquista imediata e para que as primeiras reações emotivas possam ser compreendidas leva algum tempo.

Não é possível determinar quanto tempo, pois cada pessoa reage de maneira diferente, principalmente devido ao seu histórico de vida. Pessoas que quando crianças viveram a experiência do abandono, com certeza encontrarão mais dificuldades para enfrentar esse momento, pois o abandono da infância irá se somar ao atual podendo fazê-la reviver o último com muito mais intensidade e sofrimento. Por outro lado, aquelas que viveram uma infância com afeto, sem perdas, terão mais recursos para enfrentar a separação.

Seja o que for que esteja sentindo nesse momento, saiba ser compreensivo consigo mesmo como seria com alguém que lhe pedisse colo. Dê a si mesmo, carinho, atenção e ouça cada um de seus sentimentos, sem desprezá-los ou ignorá-los, para que aos poucos comece a reconstruir esses sentimentos que pensava nunca mais sentir.

A dor da separação - Conversando com os filhos

A maneira como o pai e a mãe enfrentam a separação e suas conseqüências podem influir na vida futura dos filhos

Há sempre dúvidas se é um bom caminho falar com os filhos sobre a separação. Alguns tendem a dizer que o pai está viajando a negócios, evitando assim fazê-los sofrer. Ouvir de outra pessoa sobre a separação dos pais poderá provocar a sensação de terem sido traídos, perdendo toda a confiança nos pais.

Com certeza eles têm o direito de saber e o melhor caminho é sempre a verdade. O impacto gerado pela separação dos pais, se for bem conduzida, pode ser menos grave que as conseqüências produzidas por uma família em conflitos.

“Os pais devem repetir com freqüência o fato de que essa escolha não depende deles e que eles não são de forma alguma a causa da separação”

Ao conversar com os filhos sobre a separação é importante lembrar-se de algumas regras básicas:

- explicar o motivo da separação;

- informar quando e como será;

- explicar o que acontecerá com eles, ouvindo sempre seus desejos;

- ouvir todos seus sentimentos, dúvidas, medos e tranqüilizá-los;

- reforçar o fato de que o casal está se separando, mas que continuam sendo pai e mãe;

- lembrar-lhes sempre o quanto são amados e importantes na vida de ambos.

Qual o momento certo para falar com os filhos?

Depois da decisão ser definitiva e assumida pelo casal. Em muitos casos, ambos ou um dos pais pode desejar compartilhar suas angústias com os filhos e dizer-lhe sobre a separação e, depois de alguns dias a decisão não é tomada, a rotina se instala e nada mais é comunicado a criança, causando um desgaste desnecessário.

Quem deve contar aos filhos?

É indicado que a conversa seja feita por ambos os pais e com todos os filhos para evitar que cada um receba a notícia de maneira diferente. Se cada um resolver falar separadamente com os filhos é preciso tomar o cuidado para não acusar o outro que está ausente, nem nesse momento nem em outro qualquer.

Qual o melhor lugar para essa conversa?

O melhor lugar para essa conversa é a própria casa, sem interrupções e com bastante tempo para que os filhos sejam ouvidos, suas dúvidas sanadas e as emoções expressas, incentivando-os a dizer tudo que pensam, porém fazendo com que sintam, acima de tudo, que são amados. Conversar fora de casa também pode ser uma opção, mas nem sempre os filhos se sentirão à vontade para expor seus sentimentos.

Algumas vezes, ao receberem a notícia da separação, a aceitam sem reação alguma, mas com o passar dos dias poderão surgir reações inesperadas como queda no rendimento escolar, agressividade, apatia, insônia, tristeza, pesadelos e, até mesmo, somatizações como dores de cabeça, estômago e mau funcionamento intestinal. Nem sempre a tristeza aparecerá em forma de lágrimas, mas o corpo pode chorar as lágrimas reprimidas de outras maneiras.

É importante deixar bem claro que os filhos não têm culpa nem poder de separar ou unir o casal. É comum as crianças menores pensarem que os pais resolveram separar-se por algo errado que elas fizeram. Quanto menores forem às crianças mais necessário se torna tranqüilizá-las, evitando assim que vivenciem a separação dos pais como uma punição por alguma falta cometida. Os pais devem repetir com freqüência o fato de que essa escolha não depende deles e que eles não são de forma alguma a causa da separação.

Depois da separação

Dentro das possibilidades do casal é importante que seja mantido o ambiente que rodeia a criança, como escola, casa, bairro, amigos, pois isso pode ajudá-la a dar continuidade à sua própria vida. E independente com quem fique a guarda das crianças, a presença constante por parte de quem se foi é imprescindível.

Quando os pais conseguem resolver juntos seus problemas, participando aos filhos de suas decisões, eles tendem a aceitar com mais naturalidade esse momento, lembrando que em geral, os filhos agem muitas vezes como reflexo dos pais, por isso é importante que ambos tenham muita certeza da decisão que tomaram para que possam transmitir essa segurança para os
filhos que com certeza será refletida em suas vidas.